domingo, 10 de abril de 2011

Velhice

    Sentado em minha varanda, em minha cadeira de palha sob o chão gasto de tábuas corridas, eu vejo a cena do que eu não imaginava que meus olhos humanos veriam. O vazio, o fim, a seca. Um chão marrom e empoeirado; tudo está tão vazio como em filmes de Velho Oeste, onde quando o vilão chega, todos se escondem e a cidade morre; ouço apenas o canto do sabiá já ao longe, essa distância me entristece, pois, ele fora minha única compania nos últimos anos; mas algo já o avisara que é chegada minha hora.
    Minhas pernas doem, atividades como caminhar e corre já não são mais cabíveis a mim.
    Meus joelhos rangem, abaixar e levantar durante as tarefas do dia, já não posso mais.
    Meus olhos se enganam, já não tenho mais a certeza da boa leitura.
    Meu corpo já não é como antes; ele perdera seu formato firme e malhado dos tempos de Ginásio.  Ah...o Ginásio!  Boas recordações tenho dessa época, principalmente das garotas a serem vistas da janela do vestiário.
    Nem mesmo sorrir posso mais, pois, os dentes bonitos e saudáveis, dão lugar às dentições falsas e amarelas.
     Aqui, sentado em minha cadeira, eu queria poder sustentar meus últimos desejos; como tomar um bom banho de cachoeira e comer o manjar de Dona Inês, mas ela já nos deixara há tantos anos que minha fraca memória não me permite lembrar.
    Mas é até mesmo bom que eu não tenha acesso à realização desses desejos, não quero dar esse prazer aos vermes, pois, é chegada a hora de seu grande banquete.
    O sabiá volta cantando sua canção de despedida; lá vem ela; não há como me render; acho que o melhor a fazer é segui-la, aliás, vejo em seus olhos, que segui-la, não é uma escolha.  Sinto-a chegar mais perto, seu hálito é frio, porém, seus braços me envolvem e me passam uma insegura segurança... eu me rendo!  Sinto meus órgãos pararam aos poucos... estou adorando essa sensação de ser levado; a vida toda carreguei o mundo nas costas, mas agora me rendo à sua compaixão.  Adeus mundo carnal, finalmente a efêmeridade me consome. Estou feliz, finalmente feliz.

A viagem com ela, não é o fim de uma vida;
mas o começo de outra, em um lugar que ainda não posso dizer
ainda estamos pegando estrada.

Imagem de: myownparalleluniverse.blogspot.com

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